Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 22 de abril de 2018

Jorge Tufic - (Poética) ‎

Tufic apresenta a sua concepção da poética, muito bem delimitada – como se pode depreender dos parênteses à volta do verbete –, a transcorrer numa linguagem não exatamente escrita ou oral, parece-me, mas exatamente não verbal – como “aroma de rosa a se cumprir num outro idioma”.

Na cartografia deste poema quase não se percebe o soneto com versos livres e brancos, muito embora explícito se aviste o discurso metalinguístico que deplora das criações poéticas centradas em temáticas nefelibatas, preferindo o poeta a imersão na autêntica realidade do cotidiano, como um peixe circundado pelas águas do mar, qual um missionário da poesia, que já longe vai com suas rotas sandálias.

J.A.R. – H.C.

Jorge Tufic
(n. 1930)

(Poética)

Comunicar-me? Antes seja com a vida
que me circunda, enigma sem palavras.
Depois o resto: a seca geografia
dos léxicos varridos pela fuga
dos centauros bordados pela chuva.
Me deixo então fluir secretamente
em tudo que me amplia ou me reduz
– meu corpo sobre lâminas imóvel
– minhas sandálias rotas de evangelho.
Agora, sim, de posse da linguagem
que me habilita, como o peixe ao mar,
comunico ao leitor possivelmente
algo mais do que sou – talvez aroma
de rosa a se cumprir num outro idioma.

Em: “Lâmina agreste” (1978)

O Chamado de São Pedro e Santo André
(Caravaggio: pintor italiano)

Referência:

TUFIC, Jorge. (Poética). In: SEFFRIN, André (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia brasileira: anos 50. 1. ed. São Paulo, SP: Global, 2007. p. 170.

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