Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 10 de abril de 2018

Adélia Prado - Entrevista ‎

Cheia de malícia, num tom bem provocante, a poetisa não vê antinomias entre o sexo – “uma das maravilhas da criação” – e a santidade, que, a seu ver, é o destino do homem, pois o amor, mesmo em sua manifestação carnal, não deixa de ser uma exteriorização do divino.

Deduz-se, então, que não devemos ter, necessariamente, uma vida ascética para alcançar a santidade, porque o sexo, em si, não é uma maldição. E esse é o lado desconcertante que Adélia impõe ao “homem do mundo”, fazendo-lhe ver o lado profano do seu raciocínio. Vão-se aí centúrias do pensamento cristalizado pela Igreja, a associar o sexo ao pecado...

J.A.R. – H.C.

Adélia Prado
(n. 1935)

Entrevista

Um homem do mundo me perguntou:
o que você pensa de sexo?
Uma das maravilhas da criação, eu respondi.
Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas
e esperava que eu dissesse maldição,
só porque antes lhe confiara: o destino do homem
é a santidade.
A mulher que me perguntou cheia de ódio:
você raspa lá? perguntou sorrindo,
achando que assim melhor me assassinava.
Magníficos são o cálice e a vara que ele contém,
peludo ou não.
Santo, santo, santo é o amor, porque vem de Deus
não porque uso luva ou navalha.
Que pode contra ele o excremento?
Mesmo a rosa, que pode a seu favor?
Se “cobre a multidão dos pecados e é benigno,
como a morte duro, como o inferno tenaz”,
descansa em teu amor, que bem estás.

Em: “O coração disparado” (1978)

O Desejado Momento
(Jean-Honoré Fragonard: pintor francês)

Referência:

Prado, Adélia. Entrevista. In: __________. Poesia reunida. 3. ed. São Paulo, SP: Siciliano, 1991. p. 212.

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