Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Natasha Trethewey - O Linguado ‎

Num poema aparentemente singelo e descritivo, a poetisa coloca em primeiro plano a questão racial nos EUA, opondo uma provável pessoa de tez negra – a quem designa de “tia” – e uma criança branca, possivelmente do sexo feminino –, caracterizações que se podem deduzir do tabaco consumido pela primeira e do diálogo nos versos iniciais do poema, bem assim as meias até os joelhos em uso pela segunda.

Ficamos sabendo que a tia entrega um chapéu à criança para que se proteja do sol – e não altere demais o tom de sua pele, poder-se-ia deduzir! E vejamos as derradeiras linhas expressas: a tia pesca um linguado e tece comentários sobre um fato natural, mas ao qual se atribui um enfoque valorativo, a saber, que a parte superior do peixe é escura e a inferior branca. Observação gratuita? De modo algum! A autora do poema é mestiça, filha de mãe negra e pai branco.

J.A.R. – H.C.

Natasha Trethewey
(n. 1966)

Flounder

Here, she said, put this on your head.
She handed me a hat.
You ’bout as white as your dad,
and you gone stay like that.

Aunt Sugar rolled her nylons down
around each bony ankle,
and I rolled down my white knee socks
letting my thin legs dangle,

circling them just above water
and silver backs of minnows
flitting here then there between
the sun spots and the shadows.

This is how you hold the pole
to cast the line out straight.
Now put that worm on your hook,
throw it out and wait.

She sat spitting tobacco juice
into a coffee cup.
Hunkered down when she felt the bite,
jerked the pole straight up

reeling and tugging hard at the fish
that wriggled and tried to fight back.
A flounder, she said, and you can tell
’cause one of its sides is black.

The other side is white, she said.
It landed with a thump.
I stood there watching that fish flip-flop,
switch sides with every jump.

Mulheres Pescando
(Georges d’Espagnat: pintor francês)

O Linguado

Olha aqui, disse-me ela, põe isto em tua cabeça.
Entregou-me um chapéu.
És quase tão branca quanto teu pai,
e vais continuar assim.

Tia Mel enrolou os seus náilons
à volta de cada tornozelo ossudo.
E eu baixei minhas meias 5/8 brancas
deixando pender as pernas magras,

movendo-as em círculos pouco acima da água,
onde os vairões com os seus dorsos prateados
pinchavam daqui para ali entre
os feixes de sol e as sombras.

Assim é como deves segurar a vara
para lançar a linha em percurso reto.
Agora põe esta larva em teu anzol,
arremessa-a longe e aguarda.

Sentou-se a expelir sumo de tabaco
em uma xícara de café.
Agachou-se quando sentiu a mordida,
retesou a vara diretamente para cima,

erguendo-se e puxando fortemente o peixe
que se contorceu e tentou resistir.
Um linguado, disse, e se pode afirmá-lo
por ser escuro um de seus lados.

Branco é o outro lado, arrematou.
Foi ao chão com um ruído surdo.
Fiquei ali a observar aquele flip-flop do peixe,
Mudando de lado a cada salto.

Referência:

TRETHEWEY, Natasha. Flounder. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 559-260.

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