Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Gaspar Núñez de Arce - A Voltaire ‎

Neste soneto dedicado pelo poeta e político espanhol ao grande pensador iluminista Voltaire, menciona-se a força devastadora das ideias preconizadas pelo francês, sobretudo aquelas que visavam erradicar o poder da Igreja do plano temporal, ou melhor, do jogo político.

De fato, o texto de Voltaire é de uma ironia que descamba fácil para o sarcasmo. E para quem se dispuser a uma leitura detida de suas obras, poderia indicar, por primeiro, o seu “Dicionário Filosófico”, em especial os verbetes em conexão com o tema religioso.

A propósito, por que não consignar, por exemplo, a influência de Voltaire sobre o seu conterrâneo Michel Onfray: o “Tratado de Ateologia” deste último é capaz de fazer qualquer um rir às escâncaras. Claro está, se as crenças religiosas não forem tomadas pelo leitor como um dogma irretocável!

E para completar o viés inconformista desta postagem, apresento, logo abaixo ao texto do poema em espanhol, uma versão ao português que manda às favas as rimas do original, extirpa os hipérbatos que possibilitam tais rimas e, pior que isso, reescreve certas passagens, muito embora – o menor dos males! – não se distancie das ideias grafadas no papel pelo poeta.

J.A.R. – H.C.

Gaspar Núñez de Arce
(1832-1903)
Retrato de Bartolomé Maura y Montaner

A Voltaie

Eres ariete formidable: nada
resiste a tu satánica ironía.
Al través del sepulcro todavía
resuena tu estridente carcajada.

Cayó bajo tu sátira acerada
cuanto la humana estupidez creía,
y hoy la razón no más sirve de guía
a la prole de Adán regenerada.

Ya solo influye en su inmortal destino
la libre religión de las ideas;
ya la fe miserable a tierra vino;

ya el Cristo se desploma; ya las teas
alumbran los misterios del camino;
ya venciste, Voltaire. ¡Maldito seas!

Voltaire
(1694-1778)
Retrato de Jacques-Augustin-Catherine Pajou

A Voltaire

És aríete formidável: nada
resiste à tua satânica ironia.
Através do sepulcro ainda
ressoa a tua estridente gargalhada.

Caíram sob tua sátira mordaz
as crenças urdidas pela estupidez humana,
e hoje a razão não serve mais de guia
à prole regenerada de Adão.

Já só influi em seu imortal destino
a livre religião das ideias;
a fé miserável precipitou-se à terra,

demolindo o sermão de Cristo; os fachos
agora clareiam os mistérios do caminho;
já venceste, Voltaire. Maldito sejas!

Referência:

ARCE, Gaspar Núñez de. A Voltaire. In: CASANOVA, José Francisco Ruiz (Selección y introducción). Antología cátedra de poesía de las letras hispánicas. 11. ed. Madrid, ES: Ediciones Cátedra (Grupo Anaya S.A.), 2014. p. 579.

2 comentários:

  1. Olá, vc poderia postar de Gaspar Núnez de Arce “A vertigem”?

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    1. Prezado(a),
      Infelizmente, o poema é extremamente longo – são 57 décimas de uma obra completa – para acomodar-se no tempo, de pouco mais de uma hora por dia, a mim disponível para traduzi-lo e postá-lo no blog. Com efeito, a limitação temporal é o motivo por que, apenas de duas a três vezes por semana, traduzo poemas de outros idiomas de tamanho restrito – e isto, como esclareço na coluna mais à esquerda, em versões não exatamente poéticas, senão literais.
      De todo modo, apresento, abaixo, ‘link’ a conter o original completo, em espanhol, do poema em apreço, que você poderá "baixar" inteiro para a sua estação de trabalho, caso julgue oportuno ou necessário:
      https://books.google.com.br/books?id=w1qzAAAAMAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
      Um abraço,
      João A. Rodrigues

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