Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Augusto Frederico Schmidt - A Poesia ‎

O poeta emprega metáforas ligadas à natureza para abordar a poesia que, aflorando de fato em seu espírito, estaria ligada a atributos de sua amada, transbordando em seus olhos, desprendendo de seu corpo como se este fosse uma árvore a desafiar a eternidade.

Schmidt imprime maior acento ao sentido da visão, atravessado por toda a massa pletórica de sentimentos e pensamentos que vagueiam pelo espírito humano, em específico, o da companheira do poeta. Depois, tríplice menção à voz, no caso, vibrante, molhada e estremecida. E ao fim, transformada numa flor escura, a amada adormece e, durante o sono, a poesia nele mergulha e se aprofunda.

“Flor escura”? O que quereria dizer o poeta? Uma beleza que não reflete a sua luz? Ou seria o fato contingente de ela estar estirada ao leito, num recinto escuro? Ou ainda, em razão dos olhos e lábios fechados, a poesia não se deixar externar, senão apenas vagar num interior imperscrutável?!

J.A.R. – H.C.

Augusto Frederico Schmidt
(1906-1965)
Caricatura de Ramon Muniz

A Poesia

A poesia flutua nos teus olhos.
É uma luz que nasce
Do teu ser, do teu espírito,
E floresce nos teus olhos.

A poesia se desprende de ti, oh! árvore
De raízes fixadas no eterno.
A poesia vibra na tua voz, perpassa na tua voz.
Atravessa a tua voz molhada, veemente.

A poesia agita, estremece a tua voz
Como o vento do largo às velas dos navios
E as asas dos pássaros.

A poesia ronda o teu sono
E nele mergulha e se aprofunda
Quando adormecida te transformas numa flor escura.

Azulões e Pêssegos
(Crista Forest: pintora norte-americana)

Referência:

SCHMIDT, Augusto Frederico. A poesia. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura / Serviço de Documentação; Departamento de Imprensa Nacional, 1957. p. 9. (“Os Cadernos de Cultura; v. 98)

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