Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Juan Ramón Jiménez - Mares / Eu não sou eu

Levamos a vida sem perceber que o nosso batel, por vezes, pouco avança em vista de impedimentos subterrâneos, difíceis de serem compreendidos pela mente consciente. E à nova situação nos acomodamos, sem que tenhamos produzido a síntese evolutiva indispensável.

Somos muitos, heteronimamente pessoanos, e amiúde esquecemo-nos de integrar os vultos em que nos dividimos para seguir em frente, à vista dos compromissos que a sociedade nos impõe. E disso decorre a dificuldade em se cumprir a máxima socrática: “Conhece-te a ti mesmo”. Suma: eis aí o substrato do ser  essa imprecisa e contingente materialização da vontade!

J.A.R. – H.C.

Juan Ramón Jiménez
(1881-1958)

Mares

Siento que el barco mío
ha tropezado, allá en el fondo,
com algo grande.
İY nada
sucede! Nada... Quietud... Olas...

– Nada sucede; o es que ha sucedido todo,
y estamos ya, tranquilos, en lo novo?

Mares

Sinto que o meu barco
tropeçou, ali no fundo,
com algo grande.
E nada
ocorre! Nada... Quietude... Ondas...

– Nada ocorre; ou é que tudo ocorreu,
e já estamos, tranquilos, no novo?

Impressão: sol nascente
(Claude Monet: pintor francês)

Yo no soy yo

Yo no soy yo.
Soy este
que va a mi lado sin yo verlo;
que, a veces, voy a ver,
y que, a veces, olvido.
El que calla, sereno, cuando hablo,
el que perdona, dulce, cuando odio,
el que pasea por donde no estoy,
el que quedará en pie cuando yo muera.

Eu não sou eu

Eu não sou eu.
Sou este
a andar ao meu lado sem que o veja;
a quem, por vezes, visito,
e de quem, outras tantas, me esqueço.
O que cala, sereno, quando falo,
o que perdoa, amável, quando odeio,
o que passeia por onde não estou,
o que se manterá em pé quando eu morrer.

O Significado da Noite
(René Magritte: artista belga)

Referências:

JIMÉNEZ, Juan Ramón. Mares. In: __________. Segunda antología poética: 1898-1918. Nostalgia del mar. Madrid, ES: Espasa Calpe, 1998. p. 371.

JIMÉNEZ, Juan Ramón. Yo no soy yo. In: __________. Eternidades: verso (1916-1917). 1. ed. Madrid, ES: Tip.-Lit. A. de Angel Alcoy (S. en C.), 1918. p. 155.

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