Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Jacques Roubaud - Entre muitos poemas

O poeta costuma lembrar-se das circunstâncias que levaram à escrita de seus poemas. Mas de um, em particular, apenas se recorda de o ter concebido mentalmente quando descia uma rua entre o Sena e um hospital, em Paris, enquanto caminhava em silêncio.

Como se nota, o poema revela o modo como os poetas costumam arquitetar os seus versos, muitas das vezes como consectários de simples casualidades, quando uma ideia surge inopinadamente, em qualquer lugar em que se encontrem, seja num deserto – quando haverá de empreender um considerável salto de imaginação! – seja em França – quando a tarefa possivelmente será muito menos complicada...

J.A.R. – H.C.

Jacques Roubaud
(n. 1932)

Parmi beaucoup de poèmes

Parmi beaucoup de poèmes
Il y en avait un
Dont je ne parvenais pas à me souvenir
Sinon que je l’avais composé
Autrefois
En descendant cette rue
Du côté des numéros pairs de cette rue
Baignée d’une matinée limpide
Une rue de petites boutiques persistantes
Entre la Seine sinistrée et l’hôpital
Un poème écrit avec mes pieds
Comme je compose toujours les poèmes
En silence et dans ma tête et en marchant
Mais je ne me souviens de rien
Que de la rue de la lumière et du hasard
Qui avait fait entrer dans ce poème
Le mot “respect”
Que je n’ai pas l’habitude de faire vibrer
Dans les pages mentales de la poésie
Au-delà de lui il n’y a rien
Et ce mot ce mot qui ne bouge pas
Atteste la cessation de la rue
Comme un arbre oublié de l’espace

Caminhando no Maine
(Shana R. Jackson: pintora norte-americana)

Entre muitos poemas

Entre muitos poemas
Havia um
Do qual não conseguia me lembrar
Exceto de que o havia redigido
Há muito tempo
Enquanto caminhava por esta rua
Do lado em que os imóveis têm números pares
Banhado por uma límpida manhã
Uma rua de pequenas lojas persistentes
Entre o Sena sinistrado e o hospital
Um poema escrito com os meus pés
Como sempre componho os meus poemas
Em silêncio, mentalmente e a caminhar
Mas não me recordo de nada
A não ser da rua da luz e do acaso
Que levou a entrar em tal poema
A palavra “respeito”
Que não costumo fazer vibrar
Nas páginas mentais de poesia
Mais além dela nada há
E essa palavra essa palavra que não se move
Anuncia o final da rua
Como uma árvore esquecida do espaço

Referência:

ROUBAUD, Jacques. Parmi beaucoup de poèmes. In: ZURGAI. Poesía francesa – Poésie française. Edición bilingüe: francés y español. Cuaderno central: selección; Bilbao, ES.; dec. 2005, p. 76. Disponível neste endereço.

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