Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Domingos Carvalho da Silva - Canto em Louvor da Poesia

Que toda poesia expresse o fluxo vivo e inquieto das experiências humanas, qual sangue a manar em nossas veias: esse o intento do poeta, que por ela aspira, quer viva quer morta, mas de todo modo liberta em sua torrente transfiguradora.

Se Pessoa afirma ser pouco o que tenha visto de janelas, vigias ou tombadilhos, sonhando, Domingos Carvalho, por sua vez, espera saturar as possibilidades de que a sua poesia “alcance todos os portos e beije todas as praias”: conseguirá cumprir tamanho desígnio?

J.A.R. – H.C.

Domingos Carvalho da Silva
(1915-2003)

Canto em Louvor da Poesia

Quero a poesia em essência
abrindo as asas incólumes.
Boêmia perdida ou tísica,
quero a poesia liberta,
viva ou morta, amo a poesia.

Poesia lançada ao vento
quero em todos os sentidos.
Despida de forma e cor,
repudiada, incompreendida,
quero a poesia sem nome,
feita de dramas humanos.

Quero ouvir na sua voz
o canto dos oprimidos:
usinas estradas campos,
quero a palavra do povo
transfigurada num poema.

Que o meu canto sobrenade
ondas revoltas do mar
e alcance todos os portos
e beije todas as praias.
Quero a poesia sem pátria,
banida pobre extenuada,
a poesia dos proscritos,
negra ou branca, amo a poesia.

Quero a palavra fluente,
viva e inquieta como o sangue.
Pura ou impura eu reclamo
a poesia do momento,
filtrada exata constante.

Concha
(Katherine Stone: pintora norte-americana)

Referência:

CARVALHO DA SILVA, Domingos. Canto em louvor da poesia. In: CAMPOS, Milton de Godoy (Ed.). Antologia poética da geração de 45. 1ª série. São Paulo, SP: Clube de Poesia, 1966. p. 35.

Nenhum comentário:

Postar um comentário