Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 16 de setembro de 2017

Raimundo Correia - Mal Secreto

Este soneto é o exemplar do poeta e magistrado maranhense que Machado de Assis selecionou para a crônica intitulada “Raimundo Correia: sinfonias”, redigida em julho de 1882, na qual o “bruxo” discorre sobre a sensibilidade e a beleza do verso natural e correntio de Correia.

E bem diz o poema sobre aqueles que, em razão da necessidade de aceitação pelos pares, resolvem entrar no mundo da simulação, apondo-se máscaras para ocultar os verdadeiros sentimentos ou pensamentos, mas que no recôndito de suas almas não logram vergar a insígnia da verdade interior.

J.A.R. – H.C.

Raimundo Correia
(1859-1911)

Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Em: ‘Sinfonias’ (1883)

Decomposição para o vazio completo nº 13
(Joaquín Jara: artista catalão)

Referência:

CORREIA, Raimundo. Mal secreto. In: __________. Os melhores poemas de Raimundo Correia. Seleção de Telenia Hill. São Paulo, SP: Global, 1998. p. 49. (‘Os Melhores Poemas’; v. 34)

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