Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

John Berryman - A vida, amigos, é tediosa

O sujeito lírico – o poeta, em suma, vá lá! – está sofrendo uma grave crise de tédio, eis que demonstra o seu desagrado com a arte – a literatura em particular –, a cultura e os seus companheiros de lida, tudo isso numa linguagem coloquial fluida.

Mas será que o problema é mesmo interno, reverberando em seu íntimo, ou não seria a própria vida quotidiana, que muitas vezes se manifesta em sua falta de lógica ou banalidade? Veja-se que mesmo os animais parecem apenas se misturar com a paisagem e logo desaparecem, deixando um rastro de humor que já não é capaz de incitar o riso no poeta...

J.A.R. – H.C.

John Berryman
(1914-1972)

The Dream Songs: 14

Life, friends, is boring. We must not say so.
After all, the sky flashes, the great sea yearns,
we ourselves flash and yearn,
and moreover my mother told me as a boy
(repeatingly) ‘Ever to confess you’re bored
means you have no

Inner Resources’. I conclude now I have no
inner resources, because I am heavy bored.
Peoples bore me,
literature bores me, especially great literature,
Henry bores me, with his plights & gripes
as bad as achilles,

who loves people and valiant art, which bores me.
And the tranquil hills, & gin, look like a drag
and somehow a dog
has taken itself & its tail considerably away
into the mountains or sea or sky, leaving
behind: me, wag.

Tédio
(Walter Sickert: pintor inglês)

Canções de sonho: 14

A vida, amigos, é tediosa. Não deveríamos dizê-lo.
Afinal, o sol brilha, o grande mar suspira,
nós mesmos brilhamos e suspiramos,
e além disso disse-me minha mãe quando pequeno
(repetidamente) ‘Confessar-se amiúde entediado
significa que não tens

Recursos Internos’. Concluo agora que não tenho
recursos internos, porque estou bastante entediado.
As pessoas me entediam,
a literatura me entedia, especialmente a grande literatura,
Henry me entedia, com seus contratempos e queixas
tão infaustos quanto os de Aquiles,

que amava as pessoas e a arte da bravura, que me entediam.
E as tranquilas colinas, e o gim, parecem um fastio
e de algum modo um cão
levou a si próprio e à sua cauda consideravelmente longe
até as montanhas, o mar ou o céu, deixando
para trás: a mim, um pândego.

Referência:

BERRYMAN, John. The dream songs: 14. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 50-51.

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