Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 9 de setembro de 2017

Anne Sexton - A Noite Estrelada

Pela aposição de epígrafe ao poema, Sexton torna manifesto o anseio de espiritualidade presente no coração do atormentado pintor holandês, firme no propósito de se fundir em silêncio, ao término da vida, com o incógnito infinito.

Van Gogh percebe o eterno e o sagrado na beleza do mundo, ou melhor, nessa imensidão de firmamento que ainda está por nos desvendar as suas razões. E a poetisa reverbera esse desejo do pintor em lançar-se em direção ao desconhecido: como ele, partiu rumo ao dragão que lhe sorveu a existência...

J.A.R. – H.C.

Anne Sexton
(1928-1974)

The starry night

That does not keep me from having a terrible need of –
shall I say the word – religion. Then I go out at night
to paint the stars.
(Vincent Van Googh in a letter to his brother)

The town does not exist
except where one black-haired tree slips
up like drowned woman into the hot sky.
The town is silent. Te night boils with eleven stars.
Oh starry starry night! This is how
I want to die.

It moves. They are all alive.
Even the moon bulges in its orange irons
yo push children, like a god, from its eye.
The old unseen serpent swallows up the stars.
Oh starry starry night! This is how
I want to die:

into that rushing beast of the night,
sucked up by that great dragon, to split
from my life with no flag,
no belly,
no cry. 

A Noite Estrelada
(Vincent Van Gogh: pintor holandês)

A Noite Estrelada

Isso não impede que eu tenha uma terrível necessidade de –
devo dizer a palavra – religião. Saio então pela noite
a pintar as estrelas.
(Vincent Van Googh numa carta a seu irmão)

A cidade não existe
exceto onde uma árvore de cabelos negros desliza
para cima como uma mulher afogada no céu quente.
A cidade está em silêncio. A noite ferve com onze estrelas.
Oh estrelada, estrelada noite! Assim é como
quero morrer.

Elas se movem. Estão todas vivas.
Até mesmo a lua se distende em seus grilhões alaranjados
para, como um deus, propelir rebentos de seu olho.
A velha serpente invisível traga as estrelas.
Oh estrelada, estrelada noite! Assim é como
quero morrer:

dentro dessa impetuosa besta noturna,
sugada por esse grande dragão, para separar-me
de minha vida sem signa,
sem entranhas,
sem pranto.

Referência:

SEXTON, Anne. The starry night. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 307.

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