Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 22 de abril de 2017

Francis Jammes - Meu Humilde Amigo

Muitas postagens já se foram neste blog tendo o gato como tema, contudo, pelo que me lembre, nenhuma específica sobre o cão, o fiel amigo do homem: para saldar tal dívida, trago um poema bastante representativo da desolação que atinge o dono, quando o seu perro vai-se.

Companheiro devotado, o cão não é capaz de dissimular sentimentos, pois não sabe mentir. Sua honestidade é um atributo natural. Afinal, o que se passa pela cabeça do animal pode ser compreendido facilmente pelo dono, e vice-versa, como um comunicado telepático! Quem ousaria dizer o contrário?! (rs).

J.A.R. – H.C.

Francis Jammes
(1868-1938)

Mon Humble Ami

Mon humble ami, mon chien fidèle, tu es mort
de cette mort que tu fuyais comme une guêpe
lorsque tu te cachais sous la table. Ta tête
s’est dirigée vers moi à l’heure brève et morne.

Ô compagnon banal de l’homme: être béni!
toi que nourrit la faim que ton maître partage,
toi qui accompagnas dans leur pèlerinage
l’archange Raphaël et le jeune Tobie...

Ô serviteur: que tu me sois d’un grand exemple,
ô toi qui m’as aimé ainsi qu’un saint son Dieu!
Le mystère de ton obscure intelligence
vit dans un paradis innocent et joyeux.

Ah! faites, mon Dieu, si Vous me donnez la grâce
de Vous voir face à face aux jours d’Éternité,
faites qu’un pauvre chien contemple face à face
celui qui fut son dieu parmi l’humanité.

Dans: “L’Église Habillée de Feuilles” (1906)

O Homem e seu Cão
(Antonio Rotta: pintor italiano)

Meu Humilde Amigo

Meu cão fiel, humilde amigo, sucumbiste
Sob a mesa, fugindo à morte como à vespa
Tu fugias em vida. Ali tua cabeça
Voltaste para mim no passo breve e triste.

Companheiro banal do homem, tu que em teus dias
No que falta ao teu dono achas o que te baste,
Ó ser bendito que a jornada acompanhaste
Do arcanjo Rafael e do jovem Tobias...

Tal como um santo ama ao seu Deus, num grande exemplo
Amaste-me também, ó servo verdadeiro!
O mistério de tua obscura inteligência
Vive num paraíso inocente e fagueiro.

Ah se de vós, meu Deus, a graça eu alcançasse
De face a face vos olhar na eternidade,
Fazei que um pobre cão contemple face a face
Quem para ele foi um deus na humanidade.

Em: “A Igreja Coberta de Folhas” (1906)

Referências:

Em Francês

JAMMES, Francis. Mon humble ami. In: __________. Oeuvres de Francis Jammes. Paris, FR: Mercure de France, 1921. p. 317-318.

Em Português

JAMMES, Francis. Meu humilde amigo. Tradução de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 47. (Coleção ‘Rubáiyát’)

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