Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 10 de junho de 2014

O Outono de Nossas Vidas

Sobre o outono de nossas vidas aqui já retratei um pensamento do escritor australiano Patrick White, eivado de ceticismo. Mas agora retorno com outros quatro poemas sobre o mesmo tema, um deles, suficientemente famoso – “When You Are Old”, do irlandês W. B. Yeats –, e os outros três da lavra do poeta Bastos Tigre (n. 1882 – Recife; m. 1957 – Rio de Janeiro).

O poema de Yeats denuncia um amor quase platônico – provavelmente do próprio autor, haja vista que as palavras reunidas evocam um estado d’alma de quem as lança ao ar! – por uma mulher que parece não se importar muito em corresponder à corte, uma vez que, para o parceiro que se afirma ímpar em relação aos demais, a alma da amante qualifica-se como “peregrina”.

Mas a imaginação de Yeats emerge com maior destaque na última quadra, na qual, se colocando no lugar da contraparte, fantasia um arrependimento superveniente desta última, quando então todas as potências do amor já houverem fenecido.

Quanto aos poemas de Bastos Tigre, revelam um poeta perito no conhecimento do que vai no íntimo daqueles avançados em decênios (rs). E nisso numa forma que, a julgar pela recolha contida na sua obra de referência, era a de sua predileção: o soneto.

J.A.R. – H.C. 
W. B. Yeats
(1865-1939)

When You Are Old
(YEATS, 2007, p. 233)

When you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;

How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;

And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.  



Quando estiveres dormente, velha e grisalha,
Junto ao fogo cochilando, toma este exemplar,
E lentamente o lê, e sonha com o suave olhar
De outrora, que teu intenso mistério amealha;

Quantos amaram tuas graciosidades amenas,
E amaram tua beleza com falsa ou vera empatia,
Mas só um homem amou a tua alma erradia,
E do teu rosto em mudança amou as penas;

E inclinando-te ante o incandescente metal,
Murmuras que o amor se foi, de modo lasso,
E fugiu pelos cimos dos montes a largo passo,
Cobrindo a face às estrelas do éter sideral.

Bastos Tigre
(1882-1957)

Entardecer
(TIGRE, 2005, p. 40)

Vem, com a velhice, esta serenidade
Que nos faz ver o mundo sem rancor,
Ter um suave sorriso de piedade
Para quem no ódio viva, odiando o amor.

O ceticismo torna-se em vontade
De ser bom, fazer bem seja a quem for;
Ao mau que não tem culpa da maldade,
Ao que é, por seu destino, sofredor.

Abençoada velhice! Os desenganos
Que nas lições da vida ela nos traz
Nos trazem lucros, não nos trazem danos;

Vemos que a luta que ficou atrás
Não vale, bem medida, os poucos anos
Que nos resta viver, vivendo em paz.

Envelhecer
(TIGRE, 2005, p. 41)

Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.

Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores;
Mas lavra, ainda, e planta o teu eirado,
Que outros virão colher quando te fores.

Não te seja a velhice enfermidade.
Alimenta no espírito a saúde,
Luta contra as tibiezas da vontade.

Que a neve caia, o teu ardor não mude.
Mantém-te jovem, pouco importa a idade;
Tem cada idade a sua juventude!...

Vita Brevis
(TIGRE, 2005, p. 63)

“A vida – dizes tu – tão curta é a vida
Setenta anos… oitenta… e é a morte, é o nada
Não vale a pena tão penosa lida
Para tão breve e rápida jornada”…

É que medes a vida mal medida,
Aos teus cinco sentidos limitada,
Entre um tálamo e um túmulo vivida,
Pela ambição e o egoísmo partilhada.

Mas vive além da tua natureza,
Foge à matéria e o espírito exercita
Em ações de Bondade e Beleza;

Belo e útil faze quanto em ti palpita
E sentirás, com glória e com surpresa,
Como a vida é imortal, indefinita…

Referências:

TIGRE, Bastos. Poemas. Organização de Christina Bastos Tigre. [Rio de Janeiro]: Produção Independente, 2005.

YEATS, W. B. When you are old. In: ASSONI, Clara; PAGANI, Daniela. Antologia della poesia inglese: per i corsi di letteratura inglese della laurea triennale. Milano: I.S.U. Università Cattolica, 2007.

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